8 de mai. de 2020

mente vazia...


É como diz o ditado: mente vazia...

   ...É oficina do diabo. Famigerado ditado popular que denota o quanto pode ser perigoso deixar a mente inerte ou falsamente ocupada com conteúdo inútil. O mérito aqui não é religioso, mas evoco a vertente cultural desta figura que simboliza o mal, em diversos aspectos.
   É impressionante o quanto as pessoas estão desesperadas por ocupar seu tempo, vorazes por algum conteúdo que as entretenha. É algo necessário, é fato, mas a preocupação é: estamos exercitando nossas mentes, trazendo conteúdo útil e edificante, ou o intuito é apenas ocupar o tempo?
   O interessante é ter equilíbrio sempre, e obviamente poucos (ou nenhum de nós) analisam previamente o que de fato uma determinada atividade vai agregar à nossa jornada, mas a reflexão sobre a pauta pode ser muito valiosa.
Recentemente, descobri uma rede social onde os usuários postam vídeos curtos imitando personalidades, fazendo paródias, aceitando desafios individuais ou em grupos, etc. Realmente... as pessoas estão fazendo um esforço brutal para ocuparem suas mentes de alguma forma! Fui apresentado a esta rede por minha esposa, pois não tenho coragem de fazer uma conta. Até recentemente, minha única rede social era o WhatsApp, e por causa da necessidade e certa "pressão" de integrantes do meu círculo de convivência, fiz minha conta no Instagram há cerca de um mês. Possuo um certo temor nesta área que vem desde os tempos do Orkut, devido à minha absurda dificuldade em limitar meu tempo de navegação naquela rede, prejudicando, inclusive, minha produtividade no trabalho à época.
   Bem, não dá pra negar o quanto as redes sociais podem nos beneficiar, permitindo a manutenção do network em tempos de isolamento social. É inútil lutar contra isto, e seria hipocrisia dizer que não nos divertimos com a chuva de memes que recebemos diariamente. Contudo, voltemos ao título do presente artigo. A mente está ocupada (exercitada), ou sendo apenas distraída? Permita-me dizer que há uma diferença monumental entre as duas ações.
   É necessário analisar: qual percentual do conteúdo que absorvo diariamente me faz pensar, e traz algum progresso efetivo para a minha saúde mental?
   Gosto muito de uma frase do poeta Victor Hugo, a saber: "a água que não corre forma um pântano; a mente que não pensa forma um tolo". Dispensa comentários...
Por falar em saúde mental, a necessidade de ocupar o nosso tempo pode nos pregar algumas armadilhas. Quem já não leu a famosa sigla TBT? Confesso que demorei a entender o que isto significa. Sim, é algo inocente a princípio, mas o que temos visto é uma campanha para trazer o passado ao presente, como se fosse um alento para nos consolar em dias tão difíceis. Deixando bem claro: não é errado relembrar o passado, momentos marcantes que nos impactaram de alguma forma. Mas o que se vê nos comentários é um saudosismo exacerbado, como se o futuro não pudesse ser melhor que o pretérito ou o presente. Isso sim pode ser muito nocivo.
   Outra coisa que observei, em tom de brincadeira, mas certamente com base constatável: diversos relatos de súbitas saudades do(a) ex. No Google, as buscas pelo tema aumentaram 2.450% durante a quarentena, segundo a empresa de marketing digital AGY47 (ah essa quarentena...). Alguns Psicólogos reconhecem que este pode realmente ser um período de flashbacks, pois inconscientemente buscamos alguma forma de prazer e satisfação, o que fatalmente nos remete a experiências já vivenciadas.
O cérebro é um órgão extraordinário. Dificilmente, os neurocientistas vão descobrir todas as funcionalidades que ele possui, devido à sua vastidão. Porém, ao mesmo tempo em que ele é maleável, regenerável, complexo e fabulosamente conexo, ele também é bastante vulnerável às desconstruções externas. Ou seja, ele é um terreno fértil, onde certamente nasce o que se planta. Nos assustamos ao constatar o quão suscetível é a nossa mente a bloqueios, tanto para o bem, quanto para o mal - assunto deveras profundo, que merece um artigo à parte.
   O que quero dizer é, muitos de nós estão caindo em armadilhas nestes dias, atrofiando a mente, alimentando vínculos desnecessários ou inadequados.
Ah se aproveitássemos este período para arrumar a nossa "casa mental" e ocupa-la com conteúdo efetivamente relevante! Sim, pense na sua mente como uma casa. Você sairia jogando lixo pelo chão, ou deixaria sua casa desarrumada por mais de um mês? Creio que a maioria de nós responderá "não", mas é exatamente o que fazemos com a nossa mente. Que tal visitar a sua "casa mental" hoje e verificar o estado dela?
Pode ser doloroso e trabalhoso ter que entrar em determinados "cômodos", mas é um exercício necessário e que pode trazer benefícios palpáveis e duradouros. Logicamente, faço aqui uma abordagem superficial, tendo em vista que o cumprimento do exercício pode ser realmente difícil sem um acompanhamento. O objetivo é apresentar a proposta e gerar uma reflexão sobre o assunto. A visita a cômodos secretos, inabitados ou rejeitados pode expor você a: conceitos e valores que precisam ser revistos e/ou descartados; amizades ou alianças infrutíferas; lembranças que não necessitam ser carregadas; feridas que precisam de tratamentos; medos e receios que precisam ser vencidos; apegos exagerados; dependência emocional ou carência exacerbada, estagnação mental, espiritual, profissional, e muito mais.
    Tais situações, se constatadas, apresentam algumas decisões imperativas, a saber: necessidade de reconciliações e liberação de perdão; projeção de um plano realizável para o futuro; geração de uma lista e organização de sua ordem de prioridades; planejamento prático do tempo, etc.
O título do presente artigo pode remeter o nosso cérebro a imaginar que a falta de ocupação e exercício da mente gerará meliantes e sociopatas. Não necessariamente isto, mas a situação projeta uma circunstância preocupante, noutra escala de gravidade: a usurpação da nossa necessidade de evolução e crescimento. É algo sério, que precisa ser considerado.
   
    Se você refletiu nos tópicos aqui abordados e no seu painel mental se acendeu um alerta na maneira como você ocupa seu tempo e, consequentemente, sua mente, que tal considerar algumas dicas práticas para reverter este quadro?
-Pratique a escrita: ótimo exercício para enriquecer seu vocabulário, além de ser uma forma de desabafo em certas ocasiões (falo por experiência própria). Você pode escrever um diário ou montar um caderno com pensamentos e reflexões. Que tal escrever cartas para seus amigos à moda antiga?

-Assista a programas e séries de raciocínio: sei que isso tem a ver com o gosto pessoal de cada um, mas este pode ser um entretenimento útil para manter seu cérebro na ativa!
-Exercite a espiritualidade: ore, converse com Deus, exponha para Ele seus problemas, angústias, decepções, preocupações, ansiedades, frustrações, anseios... penso que é tempo de resgatar esta vertente que se perdeu devido à correria do dia a dia e ao entulhamento mental que geramos com tanto conteúdo inútil.
-Leia um bom livro: está cheio de promoções nas plataformas que fornecem ebooks. Basta pesquisar na internet, e não será difícil achar conteúdos com ótimo custo-benefício.
-Estabeleça limite de tempo para uso da internet e redes sociais: se você é daqueles que acessa suas redes a cada notificação recebida, é bem provável que o seu tempo de uso seja exagerado. É uma armadilha, pois ao acessar o aparelho com o objetivo apenas de verificar e responder, fatalmente somos levados a navegar em outros conteúdos que nos chamam a atenção. E lá se foi um tempo precioso... é obvio que todos temos necessidades diferentes, mas estamos falando de edificação, organização e filtro do conteúdo absorvido. Equilíbrio é a chave!
-Reúna a família para bater papo, fazer as refeições juntos, jogar aquele jogo de raciocínio em equipe... quantos de nós não perdemos a noção do quanto isto é valioso! Se não tem um jogo de tabuleiro, improvise, inventem um novo jogo de adivinhação. Isso é extremamente saudável!
     Bem, após toda esta explanação, que a nossa oficina mental esteja montada e organizada, não mais para agregar entulho inútil e propício à estagnação do raciocínio, mas agora para girar a engrenagem de forma sincronizada e produzir avanço real e benéfico. Tal como a oficina de um ourives, que precisa das ferramentas organizadas para manusear material valioso e produzir joias de elevado quilate, para as mais diversas ocasiões. Sim, esta é a sua mente. 

Bora acordar esse gigante adormecido???

por: pr.Leonardo Parma


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