É como diz o ditado: mente vazia...
...É oficina do diabo. Famigerado
ditado popular que denota o quanto pode ser perigoso deixar a mente inerte ou
falsamente ocupada com conteúdo inútil. O mérito aqui não é religioso, mas
evoco a vertente cultural desta figura que simboliza o mal, em diversos
aspectos.
É impressionante o quanto as pessoas
estão desesperadas por ocupar seu tempo, vorazes por algum conteúdo que as
entretenha. É algo necessário, é fato, mas a preocupação é: estamos exercitando
nossas mentes, trazendo conteúdo útil e edificante, ou o intuito é apenas
ocupar o tempo?
O interessante é ter equilíbrio
sempre, e obviamente poucos (ou nenhum de nós) analisam previamente o que de
fato uma determinada atividade vai agregar à nossa jornada, mas a reflexão
sobre a pauta pode ser muito valiosa.
Recentemente, descobri uma rede social
onde os usuários postam vídeos curtos imitando personalidades, fazendo
paródias, aceitando desafios individuais ou em grupos, etc. Realmente... as
pessoas estão fazendo um esforço brutal para ocuparem suas mentes de alguma forma!
Fui apresentado a esta rede por minha esposa, pois não tenho coragem de fazer
uma conta. Até recentemente, minha única rede social era o WhatsApp, e por
causa da necessidade e certa "pressão" de integrantes do meu círculo
de convivência, fiz minha conta no Instagram há cerca de um mês. Possuo um
certo temor nesta área que vem desde os tempos do Orkut, devido à minha absurda
dificuldade em limitar meu tempo de navegação naquela rede, prejudicando,
inclusive, minha produtividade no trabalho à época.
Bem, não dá pra negar o quanto as
redes sociais podem nos beneficiar, permitindo a manutenção do network em
tempos de isolamento social. É inútil lutar contra isto, e seria hipocrisia
dizer que não nos divertimos com a chuva de memes que recebemos diariamente.
Contudo, voltemos ao título do presente artigo. A mente está ocupada
(exercitada), ou sendo apenas distraída? Permita-me dizer que há uma diferença
monumental entre as duas ações.
É necessário analisar: qual percentual
do conteúdo que absorvo diariamente me faz pensar, e traz algum progresso
efetivo para a minha saúde mental?
Gosto muito de uma frase do poeta
Victor Hugo, a saber: "a água que não corre forma um pântano; a mente que
não pensa forma um tolo". Dispensa comentários...
Por falar em saúde mental, a
necessidade de ocupar o nosso tempo pode nos pregar algumas armadilhas. Quem já
não leu a famosa sigla TBT? Confesso que demorei a entender o que isto
significa. Sim, é algo inocente a princípio, mas o que temos visto é uma
campanha para trazer o passado ao presente, como se fosse um alento para nos
consolar em dias tão difíceis. Deixando bem claro: não é errado relembrar o
passado, momentos marcantes que nos impactaram de alguma forma. Mas o que se vê
nos comentários é um saudosismo exacerbado, como se o futuro não pudesse ser
melhor que o pretérito ou o presente. Isso sim pode ser muito nocivo.
Outra coisa que observei, em tom de
brincadeira, mas certamente com base constatável: diversos relatos de súbitas
saudades do(a) ex. No Google, as buscas pelo tema aumentaram 2.450% durante a
quarentena, segundo a empresa de marketing digital AGY47 (ah essa
quarentena...). Alguns Psicólogos reconhecem que este pode realmente ser um
período de flashbacks, pois
inconscientemente buscamos alguma forma de prazer e satisfação, o que
fatalmente nos remete a experiências já vivenciadas.
O cérebro é um órgão extraordinário.
Dificilmente, os neurocientistas vão descobrir todas as funcionalidades que ele
possui, devido à sua vastidão. Porém, ao mesmo tempo em que ele é maleável,
regenerável, complexo e fabulosamente conexo, ele também é bastante vulnerável
às desconstruções externas. Ou seja, ele é um terreno fértil, onde certamente
nasce o que se planta. Nos assustamos ao constatar o quão suscetível é a nossa
mente a bloqueios, tanto para o bem, quanto para o mal - assunto deveras
profundo, que merece um artigo à parte.
O que quero dizer é, muitos de nós
estão caindo em armadilhas nestes dias, atrofiando a mente, alimentando
vínculos desnecessários ou inadequados.
Ah se aproveitássemos este período
para arrumar a nossa "casa mental" e ocupa-la com conteúdo
efetivamente relevante! Sim, pense na sua mente como uma casa. Você sairia
jogando lixo pelo chão, ou deixaria sua casa desarrumada por mais de um mês?
Creio que a maioria de nós responderá "não", mas é exatamente o que
fazemos com a nossa mente. Que tal visitar a sua "casa mental" hoje e
verificar o estado dela?
Pode ser doloroso e trabalhoso ter que
entrar em determinados "cômodos", mas é um exercício necessário e que
pode trazer benefícios palpáveis e duradouros. Logicamente, faço aqui uma
abordagem superficial, tendo em vista que o cumprimento do exercício pode ser
realmente difícil sem um acompanhamento. O objetivo é apresentar a proposta e
gerar uma reflexão sobre o assunto. A visita a cômodos secretos, inabitados ou
rejeitados pode expor você a: conceitos e valores que precisam ser revistos
e/ou descartados; amizades ou alianças infrutíferas; lembranças que não
necessitam ser carregadas; feridas que precisam de tratamentos; medos e receios
que precisam ser vencidos; apegos exagerados; dependência emocional ou carência
exacerbada, estagnação mental, espiritual, profissional, e muito mais.
Tais situações, se constatadas,
apresentam algumas decisões imperativas, a saber: necessidade de reconciliações
e liberação de perdão; projeção de um plano realizável para o futuro; geração
de uma lista e organização de sua ordem de prioridades; planejamento prático do
tempo, etc.
O título do presente artigo pode
remeter o nosso cérebro a imaginar que a falta de ocupação e exercício da mente
gerará meliantes e sociopatas. Não necessariamente isto, mas a situação projeta
uma circunstância preocupante, noutra escala de gravidade: a usurpação da nossa
necessidade de evolução e crescimento. É algo sério, que precisa ser
considerado.
Se você refletiu nos tópicos aqui
abordados e no seu painel mental se acendeu um alerta na maneira como você
ocupa seu tempo e, consequentemente, sua mente, que tal considerar algumas
dicas práticas para reverter este quadro?
-Pratique a escrita: ótimo exercício
para enriquecer seu vocabulário, além de ser uma forma de desabafo em certas
ocasiões (falo por experiência própria). Você pode escrever um diário ou montar
um caderno com pensamentos e reflexões. Que tal escrever cartas para seus
amigos à moda antiga?
-Assista a programas e séries de
raciocínio: sei que isso tem a ver com o gosto pessoal de cada um, mas este
pode ser um entretenimento útil para manter seu cérebro na ativa!
-Exercite a espiritualidade: ore,
converse com Deus, exponha para Ele seus problemas, angústias, decepções,
preocupações, ansiedades, frustrações, anseios... penso que é tempo de resgatar
esta vertente que se perdeu devido à correria do dia a dia e ao entulhamento
mental que geramos com tanto conteúdo inútil.
-Leia um bom livro: está cheio de
promoções nas plataformas que fornecem ebooks. Basta pesquisar na internet, e
não será difícil achar conteúdos com ótimo custo-benefício.
-Estabeleça limite de tempo para uso
da internet e redes sociais: se você é daqueles que acessa suas redes a cada
notificação recebida, é bem provável que o seu tempo de uso seja exagerado. É
uma armadilha, pois ao acessar o aparelho com o objetivo apenas de verificar e
responder, fatalmente somos levados a navegar em outros conteúdos que nos
chamam a atenção. E lá se foi um tempo precioso... é obvio que todos temos
necessidades diferentes, mas estamos falando de edificação, organização e
filtro do conteúdo absorvido. Equilíbrio é a chave!
-Reúna a família para bater papo,
fazer as refeições juntos, jogar aquele jogo de raciocínio em equipe... quantos
de nós não perdemos a noção do quanto isto é valioso! Se não tem um jogo de
tabuleiro, improvise, inventem um novo jogo de adivinhação. Isso é extremamente
saudável!
Bem, após toda esta explanação, que a
nossa oficina mental esteja montada e organizada, não mais para agregar entulho
inútil e propício à estagnação do raciocínio, mas agora para girar a engrenagem
de forma sincronizada e produzir avanço real e benéfico. Tal como a oficina de
um ourives, que precisa das ferramentas organizadas para manusear material
valioso e produzir joias de elevado quilate, para as mais diversas ocasiões.
Sim, esta é a sua mente.
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